Introdução a Gastronomia

Terras de planaltos xistosos e de encostas graníticas por onde serpenteiam correntes de águas límpidas, a Região do Douro é um paraíso de caça do monte e de peixes do rio. A sua famosa gastronomia típica é uma centelha de boa e variada comida: o pão regional da Lapa (Sernancelhe) acompanha os enchidos caseiros; o cabrito assado em antigos fornos de lenha, orgulho de Armamar e de toda a Região é uma alternativa às trutas do Varosa, do Balsemão e do Vilar. Os torresmos à moda de Cinfães, os milhos da Meda, o coelho bravo com míscaros dos prados de Moimenta da Beira, o bazulaque de carnes de Tarouca e as divinais bôlas de Lamego completam a boa mesa duriense.

O Infante D. Henrique, precisando de abastecer as naus para a tomada de Ceuta na expedição militar comandada pelo Rei D. João I em 1415, pediu aos habitantes da cidade do Porto todo o género de alimentos. Todas as carnes que a cidade tinha foram limpas, salgadas e acamadas nas embarcações, ficando a população sacrificada unicamente com as miudezas para confeccionar, incluindo as tripas. Foi com elas que os portuenses tiveram de inventar alternativas alimentares, surgindo assim o prato "Tripas à moda do Porto" que acabaria por se perpetuar até aos nossos dias e tornar-se, ele próprio, num dos elementos gastronómicos mais característicos da cidade. De tal forma que, com ele, nascia também a alcunha de tripeiros, como ficaram a ser conhecidos os portuenses desde então.

Esta receita nasceu na cidade nos anos sessenta numa inovação do croque-monsieur que um emigrante tantas vezes fizera em França, onde trabalhava. A sua forma abundante na quantidade e na diversidade dos artigos que a acompanham, adubada com um molho de marisco picante, veio de facto ao encontro das gentes do Porto que gostam de comidas com sabores carregados e de bom sustento. É, pois, um prato jovem, de convívio, grande na porção, quente no palato, inventivo na receita.